SESSÃO 7
20 Out. 19h30

Mühlheim (Ruhr), Peter Nestler

Die Nordkalotte, Peter Nestler

Am Siel de Peter Nestler (em colaboração com Kurt Urlich), 1962, 16mm, 13'
Mühlheim (Ruhr) de Peter Nestler (em colaboração com Reinald Schnell), 1964, 16mm, 16'
Väntan [A Espera] de Peter Nestler, 1985, 16mm, 6'
Die Nordkalotte [A Calota Polar] de Peter Nestler, 1990, 16mm, 90'

A banda sonora de Am Siel é um monólogo lido por Robert Wolfgang Schnell. A sua voz fala em defesa da paisagem. Palavras expressas por um dique num rio são sobrepostas a imagens de uma vila piscatória desolada na costa da Frízia Este. Ich bin ein alters Siel an dessen Ende ein Dorf liegt (Sou um velho dique no fundo do qual fica uma aldeia). O canal conta a sua história de modo poético enquanto observa os habitantes da aldeia. As imagens conduzem-nos do rio para a aldeia, mostram-nos as pessoas, os pescadores e os seus barcos, o bar local, e regressam uma vez mais ao rio. Ao utilizar um movimento de câmara idêntico, o começo e o fim deste filme estão ligados como num ciclo, enfatizando o aspecto intemporal da paisagem.

Mühlheim (Ruhr) foi filmado na bacia do Ruhr, na Alemanha, onde a industrialização (as minas e a indústria do aço) deram origem à formação de grandes cidades com tudo o resto à sua volta. As municipalidades da área não são mais do que conglomerados das aldeias outrora existentes. No entanto, com a chegada do “Wirtschaftswunder”, o boom económico dos anos 50 e 60, os políticos começaram a sentir a necessidade de transformar as suas municipalidades em cidades. Com o pretexto do planeamento urbano, as estruturas próximas das pessoas que aí residiam foram destruídas para dar lugar a estruturas mais próxima do capital. Isto aconteceu em cidades mineiras como Mühlheim, onde se extraia o carvão e o ferro. […] O filme é hoje um documento histórico porque muito daquilo que nos mostra já mudou ou foi insidiosamente destruído e já não existe. Os aglomerados habitacionais foram desmantelados e vendidos e as pessoas partiram por já não haver trabalho. As primeiras minas no Ruhrgebiet foram encerradas em 1958 / 59. Em 1964, quando este filme foi feito, muitos operários trabalhavam já nas linhas de montagem de automóveis. Nas cidades foram construídos novos edifícios de escritórios e apartamentos. Isto é-nos mostrado no início do filme, montado numa rápida sucessão, e no entanto, o filme é mais do que apenas imagens de construção. […] Ao assistir ao filme, torna-se evidente como é que este se construiu, à medida que Nestler se movimenta pela cidade de Mühlheim. O filme consiste naquilo que ele observou na cidade. As minas, as pilhas de carvão, as torres de arrefecimento, as casas dos operários, os bares e as pessoas. Nesses momentos, o filme é muito calmo, podemos sentir a sua poesia e também que tudo está interligado. O filme mostra igualmente o que está nos extremos, onde e como vivem as pessoas, como trabalham e para quem o fazem.

Väntan de Peter Nestler

Jorg Hüber escreveu sobre Väntan (A Espera): "Depois da Segunda Guerra Mundial, a televisão sueca comprou um extenso arquivo fotográfico em Berlim. Como parte de medidas de austeridade financeira, o arquivo foi dissolvido e vendido em 1985. Para o evitar e para mostrar o valor deste documento histórico, Peter Nestler realizou Väntan, compilação de imagens de arquivo de um desastre ocorrido nos anos 30 numa mina da Silésia. Desta compilação de fotografias e de reportagens de jornal, emerge uma imagem do incidente, das condições sociais, da situação laboral dos mineiros, da negligência das precauções de segurança e da repressão dos trabalhadores em geral." Wilhelm Roth recorda que os Nazis ascenderam ao poder três anos após o acidente retratado neste filme de Peter Nestler, sublinhando a sua dimensão de protesto político contra a industrialização e os seus poderes destruidores.

Nos anos 90, Peter Nestler prosseguiu o seu trabalho de documentação cinematográfica sobre o trabalho, as consequências das profundas transformações económicas e sociais provocadas pela industrialização e pela exploração dos recursos humanos e ambientais com duas obras-primas, dois filmes de viagem, Pachamama - A Nossa Terra, filmado no Equador e este magnífico Die Nordkalotte, filmado no Norte da Europa. Depois da explosão do reactor de Chernobyl, a suas nuvens nucleares atingiram o norte da Europa. As vítimas do acidente foram sobretudo os Lapões. As suas manadas de veados sofreram com as consequências e muitos animais tiveram de ser abatidos. Foram feitas algumas reportagens sobre esta tragédia que atingiu o último povo da natureza na Europa. No seu filme Die Nordkalotte, Peter Nestler, descreve a sobrevivência cultural dos 30.000 Sami, o maior grupo étnico que vive no norte da Noruega. Os Lapões também vivem no norte da Suécia, no norte da Finlândia e na península ex-soviética de Kola. O filme de Nestler é um estudo sensível dos costumes arcaicos dos Sami, um testamento a uma paisagem árida, ainda que bela, e finalmente um protesto contra a sociedade industrial que cobre esta região remota do norte da Europa com grandes projectos, sacrificando ao lucro o seu equilíbrio ambiental. No início do século, os Sami eram quase todos famílias nómadas. Viviam da criação de veados, da caça, da pesca e do comércio. Hoje todos têm de se submeter cada vez mais aos constrangimentos que lhes são impostos, à destruição dos seus habitats naturais, ao controle das autoridades e das cidades e à pressão das populações com quem competem e que consideram os Lapões como inferiores e incapazes. Neste documentário, Nestler enfatiza o conhecimento que os Sami possuem da natureza, não para a dominar, mas para viver com ela numa harmonia espiritual. Os povos da Lapónia não exploram a natureza com a extracção do minério, da madeira ou desviando rios e lagos. Em vez disso aprenderam a viver com a aridez do local e com o clima do círculo Ártico.