SESSÃO 8
21 Out. 22h00


Sen nen kizami no hidekei: Maginomura monogatari [A Aldeia de Magino: Um Conto] de Ogawa Shinsuke, 1986, 16mm, 222'

Esta é a obra-prima das Produções Ogawa e resulta de um trabalho de treze anos. Poucos filmes - em qualquer lugar ou tempo - retrataram a história com tal complexidade. As tradições orais que circulam na aldeia de Magino ao longo de gerações são transmitidas através de contos, dança butô e recriações ficcionais. Estas últimas misturam actores conhecidos com os aldeões que vestem os papéis dos seus antepassados. Os realizadores exploraram os recantos profundos da história da aldeia fazendo uma escavação arqueológica nos campos de arroz. Esta abordagem científica contribui com uma perspectiva que evita de algum modo a desmistificação distanciada das dimensões folclóricas e espirituais da vida na aldeia. A microscopia científica do crescimento do arroz suscita admiração e quando vemos aparecer os cientistas a explicar as origens prováveis de uma dada história, estes vêm sobretudo corroborar o que há de real na história viva da aldeia de Magino. Todo este filme, soberbamente complexo, é marcado pelo ritmo das colheitas sazonais e pelo arco solar que atravessa o vasto céu de Yamagata.

Acerca de A ALDEIA DE MAGINO: UM CONTO

“(…) Este movimento fluido entre o passado e o presente é uma estrutura que se repete em quase todas as sequências do filme. Lembro-me de poucos filmes onde a noção de história seja complexificada a este ponto; vemos a concorrência entre o conhecimento produzido pelas histórias e pelas ciências sociais, os registos escritos da herança da aldeia, os contos orais transmitidos entre gerações, bem como fragmentos de história que nos chegam dos confins da experiência humana. Tudo isto é marcado por esse movimento em arco do sol através do céu e dos ciclos das colheitas do arroz que regeram a vida das populações ao longo dos tempos. O que é mesmo extraordinário é o sentimento com que se apresenta uma história que talvez não faça qualquer sentido em Tóquio, Ann Arbor ou Berlim, um sentimento da história enquanto algo que não é ressuscitado do passado, mas sim palpável e vivo no presente. O instrumento mais poderoso utilizado por Ogawa para este fim é a performance e a reconstituição mimética. (…) Com o seu intenso escrutínio documental do crescimento do arroz e da exploração arqueológica, surgem pequenas narrativas episódicas que muitas vezes põem lado a lado actores profissionais e os aldeões a desempenhar o papel dos seus antepassados. Desta forma, o conhecimento incorporado por estes aldeões torna-se visível; as memórias pessoais e colectivas obtêm uma forma concreta. Esta aproximação mimética constitui mais uma contribuição inovadora para o conhecimento. Estas são histórias que circularam entre os membros desta pequena aldeia ao longo da sua história e que podem ser recentes, apenas com uma geração ou mesmo ter séculos de existência. Para além disso, o tratamento do tempo nestas narrativas é incrivelmente complexo e é muitas vezes sustentado pela aura dos objectos que permitem ligeiros deslizes temporais." (Abé Mark Nornes, Forest of Pressure, Ogawa Shinsuke and Postwar Japanese Documentary)