SESSÃO 3
9 Out. 22h00

A Erupção da Ilha do Fogo de Orlando Ribeiro, 1951, 16mm, 20'
Tudzhi [A Fornalha] de Otar Iosseliani, 1964, 35mm, 20’
Les Rendez-vous du Diable de Haroun Tazieff, 1959, 35mm, 80’

Uma sessão que parte do fogo, da relação deste com os homens, a tradição e o trabalho. O filme do geólogo português Orlando Ribeiro é uma observação da actividade do vulcão da Ilha do Fogo em Cabo Verde em 1951. Desenhos, estudos, imagens do vulcão, da paisagem de lava solidificada e da população que aí habita e das correntes de lava incandescente que iluminam a noite.
A Fornalha de Iosseliani parte da relação dos homens com o trabalho do fogo - a vida numa fundição na cidade Georgiana de Rustavi. O horário de trabalho é intenso e inflexível. No meio da exaustão diária, sobra um tempo especial para os trabalhadores. Durante a sua pausa, cozinham numa placa de ferro aquecida. Durante este tempo, ignoram os heróis da classe operária mencionados pelo regime. Esta experiência comunal transcende os limites das duras condições na forja. Os mundos do cinema e da metalurgia experienciam uma relação de cordata solidariedade.
Les Rendez-vous du Diable é uma viagem e aventura cinematográfica do geólogo e vulcanólogo Haroun Tazieff através das crateras em actividade de inúmeros vulcões na Europa, Indonésia, Japão, América Central e do Sul. Procurando aproximar-se das crateras, apesar dos perigos e riscos constantes, o filme mergulha-nos no coração das erupções.
Acerca de LES RENDEZ-VOUS DU DIABLE

“Foi a primeira vez que Tazieff manejou uma câmara de 35mm. Mas graças ao seu sentido cinematográfico, diríamos que nunca fez mais nada na vida. Teve a ajuda, em Bali, do indonésio Wanwo Runtu, e mais tarde de um amigo, Pierre Bichet, um pintor que o acompanhou fielmente na sua "viagem pelos vulcões"; por fim, um operador de câmara profissional italiano, Aldo Scavarda, após alguns dias de adaptação às condições de rodagem diferentes de uma filmagem em estúdio, acompanhou-os ao Etna, ao Stromboli, Vulcado e ao Vesúvio. Regressado em 1957 com quilómetros e quilómetros de película, Tazieff apercebeu-se, durante a montagem, que lhe faltavam planos e mesmo sequências inteiras: partiu novamente para o Kilimanjaro, o Etna, o Stromboli e o Vesúvio para filmar planos de raccord. Foi então que se deu a erupção dos Açores, fornecendo as últimas sequências do filme, que lhe permitem terminar com uma apoteose. O filme segue quase exclusivamente o itinerário real dos exploradores, e a sua curva dramática não deixa de se acentuar, começando com um vulcão de aspecto inofensivo e terminando por um paroxismo aterrador de forças rompantes, incontroláveis.” (Michèle Firk, Haroun Tazieff)

"Diria aliás sem problemas, que Les Rendez-vous du Diable é um belo filme, porque é um filme. Ao filmar-se em perigo de morte face aos jactos de lava, Tazieff prova o cinema, se é que o posso dizer desta forma, apenas pelo facto de que essa aventura perderia todo o interesse se não existisse o filme, já que ninguém, sem ser Tazieff, saberia que ela aconteceu desta maneira. Assim, o que é belo é esse desejo desmesurado de objectivação, essa vontade aguerrida que Tazieff partilha com um Cartier-Bresson ou com o Sucksdorff de A Grande Aventura, essa necessidade interior profunda que os levou a querer autenticar a ficção contra ventos e marés, através do realismo da imagem fotográfica. Substitua-se agora a palavra ficção por fantástico. Isso leva-nos a uma das reflexões-chave de André Bazin no primeiro capítulo de "O que é o cinema", às suas reflexões consagradas à "Ontologia da Imagem Cinematográfica", nas quais parece remeter sem cessar à análise de um qualquer plano de Les Rendez-vous du Diable. Haroun Tazieff não o sabia, mas comprovou que Bazin estava correcto ao escrever: "apenas a câmara possui um 'abre-te sésamo' desse universo em que a beleza suprema se identifica quer com a natureza quer com o acaso." Se Haroun Tazieff comprovasse apenas que a natureza é uma grande realizadora, o seu filme não seria melhor que os de Joris Ivens. Pelo contrário, o que há de prodigioso em Les Rendez-vous du Diable, é que ao mostrar a erupção submarina do vulcão dos Açores, dotada de uma tal riqueza de formas que apenas Tintoretto a ousara pintar: ao mostrar-nos um rio de lava a contorcer-se num fervilhar púrpura e ouro, cores que Eisenstein apenas ousara utilizar na cena do banquete em Ivan, o Terrível; ao mostrar-nos, digo, todos esses prodígios de mise-en-scène, Haroun Tazieff, ipso facto, prova-nos que a mise-en-scène é uma coisa prodigiosa." (Jean-Luc Godard, Le Conquérant Solitaire)